quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Documentário House of Z retrata a ascensão e a queda (e o retorno) de Zac Posen na moda.

“A moda tem um lado obscuro – nem tudo é passarela, batom e vestidos fishtail”, diz Zac Posen logo no início de House of Z, documentário sobre a vida e carreira do estilista americano, que estreou nesta semana no Festival de Cinema de Tribeca com críticas positivas. Um filme sobre sua trajetória não era bem o planejado. A jornalista Sandy Chronopoulos, que assina a direção, começou a coletar imagens e entrevistas, na verdade, para um especial de TV sobre o processo de concepção e confecção de uma coleção de roupas. Ao rever as cenas capturadas, percebeu que tinha material para fazer um longa-metragem e, assim, revelar algo mais profundo.


Criado num ambiente familiar artístico, em Nova York, Posen foi catapultado ao estrelato muito jovem. Com apenas 18 anos, foi aceito na prestigiosa escola de arte e design Central St. Martins, em Londres, depois de passar três anos como aprendiz no Metropolitan Museum of Art’s Costume Institute. Em 2001, aos 21, mostrou a primeira coleção de sua marca própria nas passarelas e conseguiu vender as peças em grandes lojas do mercado americano. Não muito tempo depois recebeu um prêmio CFDA e também um grande investimento de Sean Combs (o então Puff Daddy), passou a vestir estrelas de cinema e supermodelos – da colega de escola Claire Danes à Naomi Campbell -, ganhou a confiança de Anna Wintour.

Tudo isso para, em 2008, ver seu negócio sofrer com a crise financeira. Perdeu ainda o posto entre os horários nobres de desfiles da NYFW, o que o levou a deixar o line-up do evento e desfilar em Paris, em 2010, mas suas coleções receberam críticas ruins. A ideia de que o sucesso meteórico de Zac foi devido ao fato de ser um garoto privilegiado e bem-relacionado e também seu exibicionismo e flamboyance como pessoa pública passaram a ser motivo de backlash na imprensa – o The New York Times o chamou de “showman tentando projetar um senso de grandeza”. Para complicar ainda mais, sua mãe e irmã, ambas envolvidíssimas com a marca desde o início, deixaram a empresa nessa mesma época e o relacionamento deles foi estremecido.


A ascensão, a queda e o comeback de Zac Posen são tema central de House of Z. “É uma história de redenção”, afirmou a diretora, ao apresentar o filme pela primeira vez, no festival. “Se você vai fazer um filme sobre processo criativo e mídia, especialmente hoje, você precisa ser honesto. É sobre resiliência e o que acontece dentro da moda”, completou Posen.

Para tecer essa história de redenção, o documentário aborda tantos outros aspectos, como o processo de criação do estilista, seus anos de formação, os desafios de manter um negócio na indústria da moda e até mesmo uma família despedaçada. É um retrato do artista e tanto quanto do homem de negócios. Uma das cenas mostra o americano arrematando um vestido esverdeado da coleção Inverno 2015, drapeando a peça no corpo da modelo. “Você é como o Charles James da atualidade. O jeito que aborda o toque ao tecido e encontra as costuras no corpo…”, comentou André Leon Talley, que mediou o Q&A entre a diretora, o estilista e o público presente na estreia e é também um dos entrevistados no documentário. Outros jornalistas, críticos, colegas de trabalho e fashion insiders, como a diretora da Vogue Runway Nicole Phelps, Christopher Niquet e Naomi Campbell, também aparecem nas entrevistas.

“Muitos dos experts que entrevistei foram muito abertos sobre a indústria, denotando que ela pode ser cruel muitas vezes”, disse a diretora ao Observer. “É um negócio difícil e implacável e que tem tomado um passo cada vez mais rápido. O Zac faz mais de dezesseis coleções por ano… você precisa ser resiliente para isso. E ele é resiliente e sempre manteve o senso de humor”.

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