quarta-feira, 30 de abril de 2014

Papo Bom com Alexandre Herchcovitch.

Alexandre Herchocovith nasceu e cresceu em São Paulo no seio da comunidade judaica ortodoxa paulistana. Seu contato com a moda começou com o convívio que teve com Regina, sua mãe, que o ensinou os princípios básicos da costura. Aos 22 anos Herchcovitch concluiu o curso superior de moda na Faculdade Santa Marcelina obtendo sucesso em seu desfile de formatura. Sua trajetória na moda brasileira foi construída em pouco mais de dez anos, tendo grande repercussão no cenário fashion nacional e internacional. O estilista paulistano cria anualmente 4 coleções para própria marca, além de produtos licenciados para diversas empresas. Alexandre desfila suas coleções nas principais semanas de moda do mundo, algumas delas é o São Paulo Fashion Week, e 7th on Sixth em Nova York, e é com este grande homem da moda que teremos o nosso papo bom de hoje, o rei da moda brasileira, Alexandre Herchcovith:


RF: Qual é a importância de ter uma equipe de criação aliada aos trabalhos que você faz?

AH: Eu não consigo trabalhar sozinho, meu trabalho é totalmente em grupo e nem sempre a melhor ideia é a minha. As vezes a melhor ideia é de um assistente, de um outro estilista, do consultor, e o meu papel hoje é fazer a curadoria das melhores ideias e algumas delas vem de mim.

RF: Como que você, um formador de opinião, vê estas tensões que envolvem o descontentamento populacional brasileiro com o governo do país e a vinda da copa este ano ao Brasil?

AH: Eu sinceramente sou muito a favor da demonstração deste descontentamento, por que se estivesse tudo direitinho aqui, transporte, educação, tudo, a gente não precisaria ir para rua manifestar contra como aconteceu recentemente, eu não concordo com vandalismo, depredação, isso não tem nada haver, mas acho sim que há vários motivos para a gente manifestar contra aqui no Brasil.

RF: Você iria para rua manifestar contra o que por exemplo?

AH: Eu iria para rua manifestar pela igualdade de direitos, é um assunto posto em pauta no país já tem alguns anos, principalmente ligada a casais do mesmo sexo, que não tem direitos iguais ao dos casais héteros. O que eu vejo é que todos nós temos os mesmos deveres mas não temos os mesmos direitos, isso é muito complicado para mim sabe? Isso faz eu pensar que existem lugares melhores para se viver do que o Brasil.

RF: Você já pensou em ir embora do Brasil?

AH: Já sim, penso direto, eu não posso ir embora por um único motivo, porque tudo o que eu gosto de fazer e que faço no meu trabalho é muito ligado as pessoas que fabricam aquilo que eu crio, que eu desenho, então eu tenho que ficar perto, eu não conseguiria trabalhar longe, criar na Tailândia, mandar o desenho para o Brasil e ser confeccionado como idealizei de fato aqui.

RF: Suas criações tem uma alta carga cosmopolita, mas tem  ali presente um DNA brasileiro, como que você vê essa característica dentro do seu trabalho?

AH: Eu sou muito grato de ter nascido aqui, com toda a sinceridade, o fato de eu ser brasileiro e ter tido a educação que eu tive dentro de casa, na escola, as referências culturais que eu adquiri aqui ajudou muito o meu trabalho acontecer, se eu tivesse nascido em um outro lugar, a minha roupa não seria desse jeito e a minha trajetória teria sido outra, e eu sou feliz como a minha trajetória. 

RF: Onde se deu o inicio da sua trajetória como um designer?

AH: Eu comecei a fazer roupa muito cedo, o incio foi na minha pré-adolescência, onde eu pedi para minha mãe me ensinar a costurar, cortar e fazer os moldes, porque ela fazia as roupas que ele usava. Isso aconteceu muito antes de eu pensar em ter uma marca ou vender, eu pensava só na construção da roupa, em fazer um tecido plano virar uma peça.

RF: Desde então o que mudou dentro da sua cabeça de criador?

AH: Duas décadas ou um pouco mais que isso se passaram desde que comecei a costurar, hoje sei muito mais daquilo que eu gosto e  faço do que sabia a vinte anos atrás. Tenho técnicas melhores, hoje em dia eu consigo interpretar melhor o que o meu público quer, a gente vai evoluindo conforme vai praticando.

RF: Uma vez você disse em uma entrevista que o guarda-roupa deveria ser único para homens e mulher, porque?

AH: Eu detesto limitações, eu acho que as pessoas devem usar o que elas querem usar para se sentirem bem e se expressar, independente do gênero que a cultura ou a sociedade colocou sobre aquela roupa.

RF: Como você vê a imposição da moda no consumo das pessoas?

AH: A profissão de estilista é muito cruel, porque você como estilista tem que ter ideias sem parar porque acostumamos os clientes de que a cada seis meses eles terão algo totalmente novo para ver e consumir.

RF: Qual é o tipo se cuidado que você tem com a sua marca?

AH: Eu faço um controle muito rígido do que será lançado e comercializado, porque os clientes deixam de comprar quando há uma perca na identidade do que é a marca. Eu treino as pessoas com quem trabalho a ter o mesmo olhar que eu tenho sobre os produtos para nada fugir da proposta que carregamos.

RF: É difícil fugir dos clichês? 

AH: Um pouco, mas não fico preocupado em fugir deles, eu realmente não ligo, eu faço o que me der vontade de fazer, sendo clichê ou não.

RF: Muda a ansiedade de desfilar uma coleção no Brasil e fora dele?

AH: Já tem um tempo que desfilar uma coleção não meche com a minha ansiedade, todos são frutos de um trabalho planejado meses antes que vai para uma passarela ser exposto desta maneira.

RF: Porque sempre há uma restrição muito grande em ver as peças antes de um desfile?

AH: A coleção é um segredo industrial que a gente só mostra na hora certa, e o desfile é o momento certo, eu mesmo sempre planejei mostrar as roupas no corpo das modelos, por que tem uma diferença de quando são vistas no cabide.

RF: A formação acadêmica dentro da moda é necessária? Vemos muita gente trabalhando na área que aprendeu fazendo, mas que não fez faculdade ou curso, como que você enxerga a importância da formação acadêmica dentro deste cenário?

AH: A formação é essencial porque você aprende coisas no curso que você não conseguiria aprender sozinho, ver fontes que sem uma instrução você nem saberia que existiam para procurar as informações ali postas, mas é importante saber que só a faculdade não é suficiente, você tem que buscar fazer cursos por fora e se especializar naquilo que você gosta.

RF: Para finalizar o nosso papo bom de hoje, que rumo a moda esta tomando? 

AH: A tendência global da moda atual é fazer com que cada um busque a sua individualidade, a individualização dentro da moda é o que temos visto de mais forte.

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