sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Papo Bom com Mateus Solano.

Mateus Solano que nasceu em Brasilia é ator, tem 33 anos, é formado em Artes Cênicas na UniRio, tem 12 anos de carreira baseados no teatro, 8 filmes, e muitos outros trabalhos televisivos, entre eles, 7 novelas. Seu ultimo trabalho realizado foi o personagem Félix Cury da novela global Amor à Vida, que tem seu último capítulo indo ao ar hoje, nesta sexta-feira. Mateus Solano com o papel de Félix conseguiu prêmios como Meus Prêmios Nick de ator favorito, Prêmio Extra de Televisão e Prêmio APCA como melhor ator do ano, além disso se tornou o assunto mais comentado aqui no Brasil, quebrando tabus sobre a homossexualidade, fazendo com que a tolerância e respeito com a classe GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transexuais) tivesse um crescimento notável no país, mesmo que pequeno perto do que é realmente necessário. E é com ele, este grande homem o nosso papo bom de hoje.


RF: Qual foi o principal motivo que levou você aceitar fazer o papel do Félix em Amor à Vida?

MS: O desafio de fazer um personagem que nunca tinha sido feito antes na teledramaturgia brasileira, com uma feitura muito bem trabalhada por uma série de pessoas que eu admiro muito.

RF: O personagem Félix Cury inicialmente foi muito criticado pelas pessoas por causa das maldades que cometia, do meio da novela em diante, a vida do seu personagem deu uma reviravolta e a opinião do público mudou. Fale um pouco sobre essa transição com a gente?

MS: As críticas são sempre bem vindas para mim, tanto as boas quanto as ruins, porque dá um respaldo para o que eu estou fazendo. Sempre tento tirar proveito de coisas que vão me melhorar como artista. No geral o reconhecimento foi positivo. Mostrar as mazelas e prazeres da orientação sexual nas cenas humanizaram o Félix quando mostramos como ele não conseguiu lidar com os próprios sentimentos. Walcyr Carrasco é um gênio e conseguiu criar ótimas cenas para que pudéssemos transmitir isso. É ai que eu me senti motivado em dar o meu melhor, para poder me conectar com esse público, que é tão discriminado, e que mesmo assim é alegre, festivo, com vontade de viver, de ser feliz e ser aceito.

RF: Como você explica o fato do seu personagem não ter atraído críticas homofóbicas? Você acredita que o público entendeu que os preconceitos devem ser quebrados e que o respeito das pessoas não esta na opção sexual delas?

MS: Eu acho que Walcyr Carrasco, e todos nós, conseguimos dar uma rasteira na homofobia, muita gente vem me falar que depois da novela foram aceitos em casa, até mesmo pessoas com preconceitos enraizados vindo me dizer que a partir da novela começaram a mudar a sua visão de mundo. Isso para mim foi o fruto de um trabalho muito bem feito, pois fazer um papel que faz as pessoas olharem para si e sua própria maneira de ver o mundo é o nosso principal objetivo como artista. O sentimento que tenho por esse retorno, por essa conscientização que começou a acontecer, é o de missão cumprida.

RF: Este é um dos poucos personagens gays que tiveram um impacto tão grande na televisão brasileira. Consequentemente você acabou virando alvo de desejo de muitos gays que sonham em ter um Félix em casa, como você consegue lhe dar com esse assedio? 

MS: Desde sempre deixei muito claro sobre o meu casamento, a minha família, então as pessoas me veem sempre de uma maneira muito respeitosa.

RF: Você tem receio de ser cantado por outro homem na rua?

MS: A sexualidade para mim é uma coisa aberta... Não no sentido de ter tido várias experiências ou alguma experiência homossexual. Não, não tive, mas podia ter tido, tenho muitos amigos homossexuais, e muitos desses já me cantaram.

RF: Você tem algum medo antes de entrar em cena?

MS: Às vezes sonho quando vou entrar em cena e não tenho ideia do que vou falar, apaga tudo. Meu medo é relacionado à memória, esquecer as coisas. A pior doença para mim seria o mal de Alzheimer (doença neuro-degenerativa). Definhar a memória é uma coisa que eu tenho medo, pois vivo dela.

RF: Como foi o laboratório para criar a identidade do Félix? Ele é divertido e conquistou 80% dos telespectadores por isso. Foi complexo para você?

MS: A própria vida da gente é um laboratório porque o mundo é gay, eu não fui procurar nada sobre homossexualidade porque estamos cheios de exemplos ao nosso lado. No entanto li muitos artigos sobre o nazismo para entender a fixação que o Félix tinha pelo poder. A maldade existe em todo mundo e busquei isso em mim, o último livro que li para molda-lo foi 'O Efeito de Lúcifer'. Deu um certo medo pois eu não queria que o Félix fosse caricata, grotesco demais, perdi algumas horas de sono pensando na medida exata que eu deveria imprimi-lo. Brincar com a feminilidade, no sentido de dar pinta e falar mal, é libertador, por que no fundo é o que todo mundo queria fazer: ser mais gay, no sentido alegre.

RF: Sua carreira na televisão fez dez anos a poucos meses, e o seu trabalho em Amor à Vida talvez tenha sido o seu maior reconhecimento como ator, o que você tem a dizer sobre isso?

MS: O Félix foi com certeza foi o maior desafio da minha carreira, ele não tem limites, tem um humor danado, é um presente muito lindo que o Walcyr Carrasco colocou em minhas mãos. Eu realmente não tenho como explicar o carinho que tenho por este trabalho.

RF: Qual é o lado ruim da fama? 

MS: Bom, a fama em si não tem um lado bom. O legal é o reconhecimento do seu trabalho. Ser famoso não é bom, você perde a sua individualidade. A minha vida é um contraste, com a fama eu deixo de observar para ser observado. Eu acabo perdendo um pouco da naturalidade, mas isso faz parte. É uma grande encenação da vida pública.

RF: Você se sente realizado como ator?

MS: Ainda não. Realização profissional eu tenho quando vejo atores como Fúlvio, Tony Ramos outro dia no Faustão... No dia em que eu me sentir realizado eu pararei. Minha satisfação é gerúndio.

RF: Todo mundo não falava de outra coisa quando o Félix foi desmascarado na frente de sua irmã Paloma e o resto da família, você poderia falar um pouco dessa cena?

MS: Eu estava em uma reunião de amigos, e meu celular não parava de vibrar, eram muitos amigos mesmo me parabenizando pela cena. Eu pensei "caramba, deve ter sido muito boa mesmo", cheguei em casa, eu e minha mulher, entramos no computador dela e assistimos pelo site. Foi muito emocionante, eu chorei assistindo à cena, por que não vi mais como o Félix, vi como espectador. Enquanto gravávamos foi impactante ver a Paola Oliveira reagir como um bicho selvagem vindo me atacar com todo aquele desespero e raiva nos olhos. Eu improvisei em algumas partes da cena, e nós tínhamos total liberdade de fazer o que quissemos dentro do cenário, eu tinha autorização para pirar mesmo, ali quebrei cadeiras, chorei, fiz uma destruição tremenda.  Em casa quando eu me vi jogado no chão chorando depois daquela confusão toda, eu pensei "Meu Deus, como esse menino sofre", eu realmente fiquei tocado com a fragilidade emocional do Félix.

RF: O Félix foi um dos muitos vilões que conseguiu conquistar o público. Como você vê o fato de ter tanta gente gostando e torcendo para o vilão em vez de torcer para o mocinho?

MS: O vilão tem o costume de falar o que as pessoas querem dizer, mas que acaba ficando entalado na garganta, é algo que deve ser pensado. Eu mesmo só fico feliz por não estar sendo ofendido na rua, e nem estar apanhando. No caso do Félix em especial, eu creio que misturar a comédia com o drama, fez com que ele fosse bem aceito, é um personagem divertido, e as pessoas gostam de se divertir.

RF: O que você vai carregar deste trabalho com você?

MS: Eu nunca pensei que teria um retorno tão positivo fazendo um personagem tão polêmico. Vocês podem ter certeza que eu me diverti muito fazendo o Félix, e eu só me diverti porque o público se divertia. Foi uma experiência maravilhosa porque o Walcyr Carrasco foi além do felizes para sempre nessa novela, nela nós podemos perceber que o importante é respeitar o próximo, respeitar as diferenças, resolver os nossos próprios problemas e amar a vida, por que ela é uma montanha russa, e essa é uma mensagem que eu vou levar comigo.

RF: Último capitulo vai ao ar hoje, o que vai acontecer com o Félix ?

MS: Falta tão pouco para todo mundo saber, mas assim, eu espero ter cumprido da melhor maneira possível o final que foi me dado. Todos, inclusive eu, esperamos o bem do Félix porque ficou bem claro que apesar de todas as maldades, ele tem um coração gigantesco, ele merece um final feliz. Muitas cenas com finais diferentes foram gravadas, e nós não sabemos quais delas foram escolhidas para ir ao ar hoje. Vamos ter que esperar algumas horinhas para ver o que acontecerá com ele.

RF: Vai ter um beijo gay entre o Niko (Thiago Fragoso) e o Félix?

MS: O nosso objetivo já foi concluído, conseguimos tocar em questões muito mais profundas e delicadas de serem tratadas, tivemos diversas cenas de amor e carinho entre os personagens. Eu acho que um beijo gay não faria falta, mas quem quiser saber se vai ter beijo ou não, vai ter que assistir a novela hoje a noite.

RF: Fim da novela, e agora o que vem por ai? 

MS: Tem dois filmes que devem ser lançados esse ano que são: "Confia em Mim" de Michel Tikhomiroff, ao lado de Fernanda Machado, e "O Menino no Espelho" de Guilherme Fiúza. Tem também a peça "Do Tamanho do Mundo" que vai estrear em São Paulo e excursionar logo depois pelo país todo.

Mateus Solano, é filho de um embaixador com uma psicologa, casado com a talentosíssima atriz Paula Braun, e pai de uma menina linda chamada Flora. Mateus é do signo de peixes e continua sendo o mesmo cara humilde e simpático de sempre segundo amigos próximos e familiares. Hoje ele finaliza mais um trabalho, com o qual conseguiu se consagrar na televisão brasileira. Eu tenho certeza que Solano é admirado por todos os leitores aqui do blog, sendo assim finalizo a matéria de hoje muito satisfeito. Não deixem de assistir as 21 hrs na Rede Globo as últimas emoções de Amor à Vida.

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