segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Resenha: Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo

“Me deixem cantar, eu quero cantar” entoa Elza Soares na segunda música de seu novo trabalho. A mulher do fim do mundo é o disco que saiu no começo de outubro de 2015, trabalho totalmente com canções inéditas. Primeiro trabalho somente com canções inéditas. Dá para acreditar? Elza é a maior cantora viva deste país (opinião pessoal) e NUNCA teve um trabalho com músicas inéditas. Enfim, Elza está aí, mais genial do que antes, ou comprovando toda essa genialidade. 


O disco abre com um poema de Oswald de Andrade “Coração do mar”, musicado por José Miguel Wisnik e entoado à capela por Elza. A nova cena paulistana, ruidosa, que resolveu engatar este projeto com Elza, já vem fazendo um bom trabalho há algum tempo e foi certeira a união com Elza. A trupe, idealizada pelo baterista Guilherme Kastrup, tem: Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, entre outros e com direção artística de Celso Sim e Rômulo Frós. Maria da Vila Matilde, coloca o ruído no samba, single que deu a pimenta do que viria quando o disco saísse inteiro. “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. Luz vermelha é um desbunde da união vocal de Elza com a guitarra de Kiko Dinucci. “Bem que o anão me contou que o mundo vai terminar num poço cheio de merda”. Pra fuder, coloca a cantora pra incendiar a gafieira. 


“Olho pro meu corpo vejo a lava escorrer”. Benedita é uma letra crítica sobre o submundo de uma transexual e o mundo trágico das drogas. Firmeza?! é cotidianamente bem pautada para os dias caóticos de qualquer grande cidade, pautado em um rap-gafieira. Dança vem marcando um “tango” vanguardista, trágico-sensual, com toque teatral. Canal, evoca uma africanidade. E pra fechar Solto/Comigo, para dizer que deixaram a mulher cantar. Elza transcende o que há de caminhos corretos nesta musica brasileira do novo século. A união de uma música de vanguarda, poeticamente concreta, com uma das maiores vozes que já passou por este mundo, dá um tom certeiro para um mundo musical que precisa ser torto, não correto, textural. Elza Soares é a mulher que a vida quis derrubar mas apenas a arranhou. Deixem-na cantar, deixem!

O disco encontra-se para audição no Youtube, aqui.

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