segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Desfiles de moda. Por que criam roupas que ninguém vai usar?

São nas semanas de moda que surgem as principais tendências que guiam as escolhas das marcar por uma ou duas estações. E é também neste período que surge o clássico comentário: Mas gente, por que criam essas roupas que ninguém vai usar?


Os que estão habituados com a moda entendem o seu objetivo, e sabem que o que está ali nos desfiles são expressões criadas de forma icônica para demostrar o que passou na mente do estilista para representar aquela estação. Mas ainda existe um ponto mais profundo e histórico que afetou diretamente os desfiles de passarela, assim partiremos deste ponto de reflexão.

“A Yves Saint Laurent tirou a moda de luxo dos salões abafados repletos até o teto de cadeiras douradas e a levou para a rua.”  Tungate, 2014

Ainda na gestão de seu fundador, a YSL já apresentava um olhar de democratização em relação à moda, vendo já a ruptura que seria criada mais a frente entre a alta-costura e outras formas de produção e consumo, sendo umas das primeiras a trazer e implantar o prêt-à-porter (pronto para vestir) com uma boa imagem, além de diversificar a linha de produtos que a marca atendia. No ano de 1992, já com 30 anos de existência, 82% da renda da YSL já vinha de fragrâncias e cosméticos, um marco na moda, pois já mostrava que a marca já tinha transcendido seu produto original, já fazendo parte da lembrança e desejo das pessoas como comportamento.

 No final da década de 90, surgem opiniões diversas em relação ao futuro da alta-costura. Calculava-se que no mundo inteiro haviam apenas 500 clientes de alta-costura, o que deixava ainda mais incerta a necessidade de sua existência. Mas ao mesmo tempo que essa imagem negativa se espalhava, não podiam deixar de lado que a alta-costura era a fonte de todo o sistema – sem o conto de fadas que ela criava sobre os produtos, a imagem das marcas acabava ficando abalada. Dessa forma, as pessoas começaram a se perguntar se alguém seria capaz de salvá-la.

Assim, em um modelo piramidal, a alta-costura passou a ser o topo da pirâmide, onde estilistas como John Galliano da Dior e Karl Lagerfeld na Chanel aproveitavam para refletir sua criatividade nos trajes. Eles, em seus desfiles, começaram a oferecer criações que pouco pareciam com o habitual e que dificilmente seriam vistas em pessoas na rua. Essa abordagem da alta-costura como um elemento artístico permitiu que as marcas fugissem das acusações de excesso, irrelevância e frivolidade que começaram a se alastrar pelo mercado, colocando-a como a fonte de inspiração das temporadas de moda que é a base do que vemos hoje.

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