Britney Spears e o complexo da Barbie que permeou o ideal de sucesso embutido na massa durante toda década 2000, e os motivos que a tornou a artista de MAIOR IMPACTO JÁ VISTO EM UMA GERAÇÃO!
Não é novidade para ninguém que a década 2000 foi sustentada pela imposição de um padrão de beleza, movida pelo grande mercado da mídia crescente, onde as diferenças não tinham representatividade expressiva, os artistas eram vistos como deuses e não humanos, e a juventude só pensava em consumir os modismos do momento para se encaixar nos grupos sociais.
Britney Spears mais do que uma artista é no mercado POP um produto que deu muito certo, e tem dado muito certo por bastante tempo. Sua existência efetiva no mercado da música surgiu no final dos anos 90, junto com seu surgimento a MTV ganhava força por todos os cantos do mundo por ser a grande representante do comportamento jovem daquela geração. Se estava em destaque na MTV, era sucesso, era o modelo a ser seguido.
Consequentemente a mídia impressa estava crescendo a todo o vapor com posters, revistas, albuns de figurinhas sendo comercializados a cada esquina... Entenda que estamos falando de uma geração que quase não tinha acesso a internet, e as pessoas que tinham, lidavam com uma internet muito mais limitada do que conhecemos hoje. Ou seja, Britney Spears gerou uma sequência de produtos (revistas, posters, álbuns de figurinhas, perfumes, chicletes, CD's, DVDs, VHS, singles físicos, bonecas, latas de refrigerantes, chaveiros...) maior do que qualquer artista conseguira até hoje. Nem mesmo Madonna foi um produto tão comercial quanto Britney, por que veio de uma geração menos consumista, ou até mesmo a mais grande e recente descoberta Lady Gaga, por ter surgido em uma época onde a era digital ganhava força e enfraquecia bruscamente o mercado dos álbuns físicos e mídia impressa. As pessoas já não compravam imagens, elas salvavam em seus computadores, e o download pirata era bastante comum, não tem muito tempo que as plataformas digitais, onde o consumo de musica online é legalizado, ganharam espaço.
Vou dar um biscoito para quem acertar qual era o padrão de beleza da década 2000! Se você disse que o padrão era ser branca, magra, de cabelos loiros e lisos, acertou. Era assim que a mídia fazia a grande parte das garotas sonharem em ser. Era esse tipo de beleza que era enaltecido ao extremo para as jovens através da TV e revistas, e esse ideal era repassado até para as crianças, já que o sonho de consumo das meninas era ter uma Barbie. A menina poderia ter todos os brinquedos, mas culturalmente nenhum era exposto sendo tão legal quanto a garota "perfeita" em um mundo cor de rosa comercializada pela Mattel. Paralelamente a isso os Estados Unidos era a grande potência financeira do globo, e sua cultura era copiada e valorizada pelos países de segundo mundo, que desvalorizava a própria cultura para consumir o produto norte americano.
Então não era de se causar espanto que toda garota quisesse ser a Britney Spears, que era nativa do país “mais legal” do mundo, onde todo jovem queria morar, magra da barriga chapada, loira, de cabelo liso, com o nariz fino, os dentes branquíssimos e retos, rica e super famosa - O maior exemplo de Miss American Dream que você poderia ter. O sucesso de Britney mais uma vez era favorecido pelo espirito daquela geração! Ela quase não tinha opositores e pessoas que não a aceitassem, como Madonna teve por exemplo ao peitar o machismo de frente e apoiar o feminismo. Posterior a Britney, a maior estrela que surgiu no cenário POP foi Lady Gaga, e não era toda garota que queria ser como a Gaga, na verdade quase nenhuma garota queria ser a Lady Gaga, que em seus anos de maior sucesso foi vista pela massa, exceto por uma parcela da comunidade gay, como feia (por não ter um nariz pequeno e fino e os traços do rosto tão delicados e femininos, quanto os das outras artistas selecionadas pelas grandes gravadoras), esquisita, estranha, alvo de ridicularização (por suas vestes excêntricas), e teve até seu gênero posto em dúvida. Os looks de Lady Gaga causavam estranhamento, os de Britney eram a moda do momento, o jeans baixo, as blusinhas baby look, a calcinha fio dental e o piercing no umbigo era o uniforme de quase toda adolescente. O caso de Britney era diferente, todos os garotos queriam transar com ela, toda garota queria se parecer com ela, e antes do término com Justin Timberlake onde veio a tona o fato de Britney não ser mais virgem e ter sido supostamente infiel, os pais faziam gosto de seus filhos serem seus fãs.
Bom, quem aqui tem boa memória se lembra que na década 2000 as revistas do público teen e telenovelas voltadas para os adolescentes passaram a abordar com bastante veemência o uso do preservativo, a perda de virgindade, o beijo de língua... Esses temas se tornaram mais aceitáveis, era normal debater sobre sexo, as garotas começavam a se sentir cômodas ao falar disso com suas amigas, expor sua sexualidade tanto nas vestes quanto no seu comportamento, e se falando de referências midiáticas, após o rompimento com Justin Timberlake, Britney preenchia todos os ideais impostos do que era ser super legal nos anos 2000.
Isso foi um UP em sua imagem, porque seu público consumidor tinha os hormônios a flor da pele e não fazia muita questão de esconder seus desejos. Quando ela beijou Madonna na boca então, o restante do publico gay que não a seguia ficou de queixo caído e apaixonado por ela, depois disso ela lançou Toxic e o resto é história.
É obvio que Britney Spears era super carismática, tinha conceitos visuais incríveis, era uma expert na dança, muito competente, com hits muito bem construídos, e que todas essas qualidades também influenciaram em seu sucesso e não devem ser desmerecidas, mas nem tudo depende de ser a pessoa certa, tem que ser a pessoa certa, no local certo e tempo certo.
Talvez se Britney tivesse surgido na geração atual, ou em uma geração antes da década 2000, sua aceitação não tivesse sido tão grande. Vale ressaltar que Britney não foi apenas favorecida pela alienação dos anos 2000, ela também se tornou vítima dessa alienação. O jogo começou a virar depois dela se casar e engravidar entrando precocemente no que as pessoas associavam a uma vida adulta. Ser mãe jovem naquela época simbolizava perder todas as vantagens da idade, sua queda se intensificou depois dela ter ganhado alguns quilos após suas duas gestações, saindo assim do padrão top model exigido das famosas na época, foi neste exato momento que o produto Britney passou a perder o seu valor, estou falando do tão comentado ano de 2007 na vida da POP Star.
Muitas pessoas até ficaram felizes em vê-la ser destroçada pelos meios de comunicação, porque estavam começando a ficar cansadas de não atingir o nível de “perfeição” imposto pela mídia. Quando Britney deixou de ser o modelo e se igualou aos “mortais” (uso o termo “mortais” por que até o fim dos anos 2000 os artistas ainda eram vistos como deuses, pessoas superiores às pessoas comuns, não eram vistos de igual para igual, não eram enxergados como humanos, era tudo muito mais distante de um referencial real), foi como se a população depois de tanto ser diminuída pelos referenciais das capas de revistas, protagonistas de filmes, novelas, anúncios publicitários, se vingassem! Não que fosse divertido falar mal da Britney, mas se tornou um ato libertador para a massa, o que foi um erro explicável, mas injustificável.
Assuntos como representatividade, o que é a beleza real e individual e não um referencial de beleza imposto, gordofobia, e a não objetificação da mulher tem ganhado a atenção das pessoas aos poucos, já são discursos que a nova geração levanta e defende, o que é um passo importante e um grande avanço. As redes sociais também aproximam as pessoas dos artistas que expõem com mais liberdade seus problemas, suas tristezas, sua rotina comum, e as pessoas se identificam com eles além de só os admiriar. Este processo já havia sido iniciado após Britney Spears abrir seu coração no documentário For The Record lançado em 2008, mas que ainda transmitia uma imagem muito intocável dela.
Vale ressaltar que este texto não foi feito para desmerecer nenhuma artista, mas entender o padrão de consumo que a mídia, muitas vezes cruel, não só com o publico, mas também com os artistas, impõe e como cada geração consome e absorve isso.
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